Quando Tite mandou a campo Jorge Henrique, substituindo Douglas, o Corinthians prometia estar atento a todos os movimentos do Chelsea. O mais importante para os corintianos, afinal, além de jogar uma partida inspirada, era mesmo deter os avanços dos Blues pelos lados do campo, principalmente pelo lado direito, ou seja, se aplicar taticamente.
E a lateral-direita foi protegida, tal qual a esquerda, tal como o miolo de zaga e a parte dos volantes. O Corinthians foi impecável. Mesmo não tendo sido mais perigoso no primeiro tempo, porque o Chelsea teve a chance com Cahill num lance de escanteio em que Cássio fez um quase milagre, e depois com Moses, em que Cássio fez uma das mais brilhantes defesas de sua carreira – certamente uma mais importantes. Em um jogo-espelho, com dois 4-2-3-1s, Emerson iniciou para atacar o lado destro do Chelsea, em que Ivanovic atuava. Jorge Henrique, enfim, entrava para ser um secretário particular de Alessandro, auxiliando-o no combate a Hazard e marcando Cole.
Paulinho teve de se sacrificar como um jogador de sua magnitude para seu time teria de fazer. Doou-se pelo conjunto, marcando e combatendo Ramires no duelo mais direto e interessante do jogo, dada a qualidade de ambos. Pela mesma posição, o confronto único por uma vaga na seleção, isto tudo era realmente diferente para os dois. Ainda que Ramires seja tecnicamente superior, Paulinho tem se superado e atingiu tal nível notável como jogador da posição, não o dando por acaso uma vaga com Mano na seleção. A surpresa maior foi reparar o quão agressivo e imponente o Corinthians mostrou-se dentro do jogo. Não foi um show, mas foi uma performance excelente. O time de Tite conseguiu se tornar ainda melhor que o mesmo campeão da Libertadores.
O Chelsea, afinal, apesar de não ser fantástico, é um time de respeito, de nome. Possui opções, variações, qualidade. E aos montes. Faltou organização, e bem como o The Sun descreveu, é o fim do mundo, ao menos para Benítez, ter perdido o jogo. A equipe azul de Londres foi pressionada por um Corinthians dono de si e dono do jogo. Danilo fez exaustivamente um trabalho de recuperação, trabalhando sobre Lampard para impedir o Chelsea de começar o jogo com algum conforto desde lá de trás. Guerrero, não só pelo gol chorado, mas pelo jogo em sua plenitude, foi fundamental. Os corintianos conseguiam então fazer jogo, com alguma dificuldade – uma dificuldade natural, há de se falar, dado o adversário -, mas as chances criadas não foram por qualquer coisa. No primeiro tempo, Emerson teve duas em seus pés. Na primeira, ao invés de passar a Guerrero, tentou passar por David Luiz, que protegeu com o corpo de forma simples; a segunda foi com um erro pífio de Gary Cahill, aos 28 minutos da primeira etapa, em que o corintiano chutou a bola longe da meta de Cech.
Hazard, então, foi travado pela direita. Alessandro foi destemido, pela direita, também – mesmo sem apoiar efetivamente. Ralf foi pego por Lampard em um lance. Ralf marcou Lampard. Lampard não conseguiu jogar, e o Chelsea aproximava-se de Cássio por talento, não por estratégia ou plano de jogo. Era a qualidade que tantos diziam que eles tinham.
O panorama do jogo mudou quando, no segundo tempo, o Corinthians passou a pressionar por volume, que o Chelsea, pelo caminho que tomava, teria com que lidar. A posse era corintiana, mas a força de ataque literalmente pertenceu aos alvinegros. Paulinho, por mais que mais tímido que na Libertadores, infiltrou-se para dar o passe a Danilo que finalizou para Cahill tirar e, na sobra, Guerrero confirmar o tento. Com o pressing voraz a que impôs o Chelsea, o Corinthians sabia que o gol estava mais perto. Esse sempre foi um dos maiores trunfos do time de Tite. Ter segurança que a chave do jogo está nas próprias mãos. Mesmo que Paulinho, a arma da Liberta, não estivesse a fim de marcar o gol redentor dos corintianos, pois ajustava-se ao desafio de acompanhar Ramires, a chave estava na cabeçada de Guerrero, que entrou para a história fazendo história.