Posts tagged ‘Corinthians’

16/12/2012

Entrou, aplicou e ganhou

Quando Tite mandou a campo Jorge Henrique, substituindo Douglas, o Corinthians prometia estar atento a todos os movimentos do Chelsea. O mais importante para os corintianos, afinal, além de jogar uma partida inspirada, era mesmo deter os avanços dos Blues pelos lados do campo, principalmente pelo lado direito, ou seja, se aplicar taticamente.

E a lateral-direita foi protegida, tal qual a esquerda, tal como o miolo de zaga e a parte dos volantes. O Corinthians foi impecável. Mesmo não tendo sido mais perigoso no primeiro tempo, porque o Chelsea teve a chance com Cahill num lance de escanteio em que Cássio fez um quase milagre, e depois com Moses, em que Cássio fez uma das mais brilhantes defesas de sua carreira – certamente uma mais importantes. Em um jogo-espelho, com dois 4-2-3-1s, Emerson iniciou para atacar o lado destro do Chelsea, em que Ivanovic atuava. Jorge Henrique, enfim, entrava para ser um secretário particular de Alessandro, auxiliando-o no combate a Hazard e marcando Cole.
Paulinho teve de se sacrificar como um jogador de sua magnitude para seu time teria de fazer. Doou-se pelo conjunto, marcando e combatendo Ramires no duelo mais direto e interessante do jogo, dada a qualidade de ambos. Pela mesma posição, o confronto único por uma vaga na seleção, isto tudo era realmente diferente para os dois. Ainda que Ramires seja tecnicamente superior, Paulinho tem se superado e atingiu tal nível notável como jogador da posição, não o dando por acaso uma vaga com Mano na seleção. A surpresa maior foi reparar o quão agressivo e imponente o Corinthians mostrou-se dentro do jogo. Não foi um show, mas foi uma performance excelente. O time de Tite conseguiu se tornar ainda melhor que o mesmo campeão da Libertadores.

O Chelsea, afinal, apesar de não ser fantástico, é um time de respeito, de nome. Possui opções, variações, qualidade. E aos montes. Faltou organização, e bem como o The Sun descreveu, é o fim do mundo, ao menos para Benítez, ter perdido o jogo. A equipe azul de Londres foi pressionada por um Corinthians dono de si e dono do jogo. Danilo fez exaustivamente um trabalho de recuperação, trabalhando sobre Lampard para impedir o Chelsea de começar o jogo com algum conforto desde lá de trás. Guerrero, não só pelo gol chorado, mas pelo jogo em sua plenitude, foi fundamental. Os corintianos conseguiam então fazer jogo, com alguma dificuldade – uma dificuldade natural, há de se falar, dado o adversário -, mas as chances criadas não foram por qualquer coisa. No primeiro tempo, Emerson teve duas em seus pés. Na primeira, ao invés de passar a Guerrero, tentou passar por David Luiz, que protegeu com o corpo de forma simples; a segunda foi com um erro pífio de Gary Cahill, aos 28 minutos da primeira etapa, em que o corintiano chutou a bola longe da meta de Cech.

Hazard, então, foi travado pela direita. Alessandro foi destemido, pela direita, também – mesmo sem apoiar efetivamente. Ralf foi pego por Lampard em um lance. Ralf marcou Lampard. Lampard não conseguiu jogar, e o Chelsea aproximava-se de Cássio por talento, não por estratégia ou plano de jogo. Era a qualidade que tantos diziam que eles tinham.

O panorama do jogo mudou quando, no segundo tempo, o Corinthians passou a pressionar por volume, que o Chelsea, pelo caminho que tomava, teria com que lidar. A posse era corintiana, mas a força de ataque literalmente pertenceu aos alvinegros. Paulinho, por mais que mais tímido que na Libertadores, infiltrou-se para dar o passe a Danilo que finalizou para Cahill tirar e, na sobra, Guerrero confirmar o tento. Com o pressing voraz a que impôs o Chelsea, o Corinthians sabia que o gol estava mais perto. Esse sempre foi um dos maiores trunfos do time de Tite. Ter segurança que a chave do jogo está nas próprias mãos. Mesmo que Paulinho, a arma da Liberta, não estivesse a fim de marcar o gol redentor dos corintianos, pois ajustava-se ao desafio de acompanhar Ramires, a chave estava na cabeçada de Guerrero, que entrou para a história fazendo história.

16/02/2012

Novela

O Corinthians não tem, pelo menos por ora, um relacionamento muito amistoso com a Copa Libertadores. A ambição por parte dos torcedores ao que se diz sobre tê-la só cresce, mas a afinidade entre as partes não. Um fato com as permanentes aparições da equipe na competição é consistente: o Corinthians conhece a competição.

Exatamente, conhece a competição. Sabe o caminho das pedras para tentar chegar a um estágio que nem tem passado perto recentemente – exceções feitas a 1999 e 2000.

O relacionamento não se engradece, então, o caso de amor ainda não está roteirizado. Mas a estreia corintiana nesta quarta foi de filme, ou, no contexto, de novela.

O time de Tite, tradicional no 4-2-3-1, enfrentou um Táchira no 4-4-2, que marcou aos 21 após confusão na área do time brasileiro. O desenrolar da jogada ocorreu no flanco esquerdo corintiano, que ‘sofria’ agressão do lateral-direito Chacón.

Por si só, começar perdendo não é um desastre, porém, é sabido que o Corinthians consiste em muito mais time que o Deportivo. Assim sendo, poderia ser exigido um pouco mais de trabalho.

Quase que deu derrota. Começar tropeçando na própria ansiedade não é muito agradável, e após o tento sofrido por Herrera, o Corinthians tentou se soltar, atacar, ir pra frente, literalmente.

Nada de fracasso em início de Libertadores, e no roteiro de novela, Ralf fez o gol no último minuto de disputa. Para tudo, o jogo não era para passar sufoco.

Mas o atestado chega a ser bom por passar o obstáculo inicial de uma competição tão requisitada pelos corintianos: a estreia já se foi, e agora a equipe pode jogar com mais liberdade.

Quiçá, o início tão confuso de um time notoriamente mais apurado que o adversário seja o começo de mais uma novela. E é, afinal, Libertadores, para mais que qualquer um, é caso de novela para corintiano. E se não fosse Ralf…

Por: Felipe Saturnino

12/02/2012

Tendências

A derrota são-paulina de hoje no Pacaembu era o segundo resultado mais plausível – pelo menos do meu ponto de vista. O empate era o mais normal de acontecer, anotando o palpite puro na charada do segundo domingo de fevereiro.

Para o Corinthians a conquista inicial sobre os eternos rivais é importante após um ano tão bipolarizado – a vitória tricolor com o 100º de Ceni e quebra de tabu, o massacre histórico dos alvinegros e um empate insosso na disputa de primeiro lugar no Brasileirão -, renovando as esperanças de um bom ano quando fala-se de clássicos. A tendência para o time de Tite em clássicos, tratando de ganhar, é grande. O São Paulo sofre com os adversários apesar do resultado histórico no Paulistão do ano passado, mas compreende o significado da derrota de hoje se expusermos um jogo de várias faces distintas.

As tendências do esquadrão de direção leonina ainda não possuem base. O São Paulo se forma e está em um estágio primário de formulação de equipe. A derrota para, talvez, o maior rival, apenas reforça a tese no pensar de um time forte em completa fase de formação e um aparente bom time em estágios pré-formação.

Mas chega a ser fato que o momento mais assustador aos corintianos hoje foi no pós-expulsão de um João Filipe absolutamente patético em campo. Ponderando por seu posicionamento, mais aberto, na lateral-direita, em um ponto mais alto do campo, chega a ser quase aceitável. A atuação irregular e tensa do camisa 21 nos dá outra conclusão. A pegada em Jorge Henrique – que também não é o que parece ser – somente prova o ponto aqui mostrado.

Danilo - o destaque do Corinthians no jogo

João Filipe havia sido um quarto-zagueiro irresponsável no ano passado, com a técnica de um jogador que podia fazer um pouco mais do que sua posição lhe permitia. Ele finalizou o ano em baixa, assim como todo o São Paulo – mesmo com a goleada sobre o Santos em última rodada de campeonato nacional -, e por esse motivo Leão pregou Paulo Miranda em seu lugar, tendo a opção de Édson Silva, ainda.

E quando você reúne tudo isso, num clássico, a tendência não é muito agradável.

Leão bancou o risco de mantê-lo em campo, apesar da frequente exploração de Fábio Santos, que atuava em suas costas, e da incidência de Jorge Henrique, que dava corda para o beque se enforcar. Com Fernandinho, Osvaldo e Maicon em campo, no minuto seguinte, João é expulso.

Justo.

O plano de Leão era agredir mais, mantendo Wellington na cabeça-de-área, Maicon como segundo-volante, Cícero aparecendo na meia-central, Osvaldo pela ponta-esquerda e Lucas pela direita. O jogo era ‘espelhar’ o Corinthians – 4-2-3-1 x 4-2-3-1.

As tendências de agredir o Corinthians apareceram, e o São Paulo partiu para as bolas. Fernandinho chutou até uma perigosa para Julio Cesar defender, a 15 minutos do fim.

O destacado do jogo é Danilo. A sua tendência de sair do time com Douglas pode até permanecer ilesa, mas o técnico gaúcho do atual campeão brasileiro sabe que enfrentará um dilema. O mais sonolento conseguiu ser, ao menos por hoje, um pouco mais empolgante, fazendo até gol contra o time que já havia lhe dado seus melhores momentos como profissional.

Se o São Paulo ficou solto e não conseguiu empatar, o Corinthians segurou pragmaticamente e administrou mais um triunfo no campeonato paulista. As tendências, porém, são relevantes.

No momento pós-penal, que Jadson desperdiçou, pensei comigo mesmo que seria difícil recuperar a confiança e o Corinthians poderia matar o jogo na segunda etapa. Repensei quando vi as ousadas, e ao mesmo tempo doidas, substituições de Leão. Esqueci para o quê tendia João Filipe. Se o técnico tricolor assumiu o risco e não modificou a estrutura física na lateral-direita, o zagueiro cedeu a Jorge Henrique. Que a derrota do São Paulo não seja culpa de Leão, mas que as tendências de assumir risco do treinador e a de João sejam resolutas com o passar do tempo.

Afinal, tendência agora mesmo é o Corinthians ser favorito nos clássicos contra o Tricolor. A não ser que o time em formação tenda a se transformar em um time formado com mais velocidade que o normal.

Por: Felipe Saturnino

04/02/2012

Tite e seus três meias

O início de ano no futebol aqui, em terras tupiniquins, nunca é contagiante. Sempre leva um tempo para engrenar até os jogos entre os figurões, que ocorrem lá para frente na competição. É a questão debatida já há algum tempo sobre o valor dos estaduais.

O 4-2-3-1 corintiano com apenas um meia original: Douglas dinamiza, por dentro, com os pontas; Paulinho avança espontaneamente, como de praxe

O Corinthians começou o ano, do começo sempre debatido, de forma eficaz: batendo seus quatro primeiros rivais, todos por um gol de diferença, apenas. Da mesma forma com que finalizou o ano passado. E Tite, como não poderia deixar de ser, manteve o esquema da moda que exerce no alvinegro desde sua entrada no clube. Por este dado motivo, a conquista corintiana no Brasileirão do último ano foi a da perseverança, da convicção por parte de Tite. Pois chances para mudar, bem, deveras ele tinha.

Faltavam opções para o gaúcho – que ele simplesmente resolveu com o revezamento entre Alex e Danilo. Apesar da regularidade de Paulinho, o mais exaltado da esquadra no final do ano que já passou, e de seu companheiro de setor, Ralf, o que faltava aos alvinegros era mais um meia que pudesse dinamizar mais facilmente com os outros dois ‘pontas’ – fossem Willian, Emerson ou Jorge Henrique.

Ao contratar o velho conhecido Douglas – que teve uma passagem com ótimos momentos em 2009, na conquista do Paulistão e da Copa do Brasil -, o Corinthians ganha em qualidade – evidentemente – num setor em que as opções eram devidamente limitadas para exercer a função de meia central. O ex-Grêmio tem recursos apurados para ser uma outra boa opção, mas sabe que, certamente, será uma de suas últimas chances para jogar razoavelmente bem num time de alto escalão em âmbito nacional. O canhoto é bom, mas carrega desconfiança aos ares de Parque São Jorge.

Com o catarinense figurando dentre as possíveis escolhas de Tite, o dilema surge, bem objetivamente, voltando as atenções aos três meias principais do time: Alex, Danilo e o próprio Douglas.

De forma sucinta, Tite deve consistir com os dois primeiros atuando de forma mais espontânea e natural, mas, cedo ou tarde, Douglas, já candidato a ser nº 10, se sucederá a um posto de titular. A questão será mais afunilada quando o assunto for a Libertadores, e o técnico terá de fazer escolhas mais certeiras. Opções, porém, ele tem.

Para modificar um jogo contra um ‘cachorrão’ na competição que os torcedores corintianos mais ambicionam, Douglas pode figurar consideravelmente nas relações de convocados. A chave para ele será assimilar a importância de jogar onde se precisa de uma opção após uma passagem irregular no Grêmio. Suspeitar do ex-10 do Corinthians nos anos de 2008 e 2009, hoje, é algo muito aceitável. Tite agradece por uma saída alternativa, apesar de todos os poréns muito existentes do meia.

Douglas - voltando para tentar voltar

Por: Felipe Saturnino

13/12/2011

Lições de um campeonato – Parte 2

O legado do nosso campeonato, da vista tática, vai se basear em algum tempo no uso do 4-2-3-1. Grandes mudanças no panorama do uso frequente deste esquema parecem estar um pouco distantes.

É dever ressaltar, portanto, que mesmo sendo um crítico do esquema, sua eficácia não deve ser questionada. E não importa se ela se deu de forma mais acentuada na seleção espanhola ou alemã; o 4-2-3-1 veio para ficar. Apenas critico o pragmatismo que algum jogos nos deram, ou melhor, alguns times nos deram

O campeão Corinthians, exemplificando de forma mais clara, obteve um aproveitamento absolutamente absurdo nas primeiras 10 rodadas: 28 pontos somados, 16 gols marcados e apenas 4 sofridos – sendo que em 5 jogos, a equipe não tomou gol algum. Ataque efetivo, defesa segura. E tudo isso após um começo de ano um tanto duvidoso: eliminação pífia para o Tolima na Copa Libertadores e fracasso na final do Paulistão, em um segundo jogo que o Santos comandou do início ao fim.
Mas a equipe tinha uma linhagem comum ao 4-2-3-1, já que o 4-3-1-2 não funcionou com Adilson Batista, e os quase extintos esquemas com dois meias em um 4-2-2-2 são “utópicos” em alguns momentos. A equipe de Tite foi muito funcional no início da edição 2011 do torneio, por um motivo muito claro: compreensão e adaptação de jogadores ao esquema.
Na linha dos três meias ofensivos, Danilo, Willian e Jorge Henrique estavam voando. O segundo, especificamente, era o homem mais ativo nesse meio. Willian partia pra cima dos adversários, e com sua agilidade e versatilidade, fez jogos muito bons. Jorge Henrique era mais discreto, aparecia menos nos jogos, mas era funcional. Danilo era uma incógnita, mas aparecia para jogar. Mais ainda, o que deve se dizer também é sobre a importância de Paulinho, na função de um volante que aparece num ponto mais alto do campo para dar suporte ao ataque, o que faz com que a equipe alvinegra tenha vantagem nos confrontos do jogo. Outro trabalho a ser aplaudido no campeonato é o de Ralf – ótimo volante que combate, cobre e dá suporte à marcação de jogadores periféricos no campo.

Os problemas se iniciaram com a derrota diante o Cruzeiro. Joel Santana, na oportunidade, fez com que os laterais alvinegros fossem barrados e parou também Paulinho. Assim, a vantagem corintiana em um ponto mais alto do campo não existiria.

Mas, se com o passar do tempo, o esquema parecia mais e mais pragmático, ao ponto de o campeão brasileiro ter feito apenas dois ótimos jogos no segundo turno inteiro, o que salvaria o time? A individualidade. Foi ela que fez com que Alex trouxesse mais dinamismo ao time no jogo contra o Figueirense, em SC. Foi ela que fez com que Luiz Ramires marcasse o tento salvador diante o Ceará. E também tem aquele jogo do Adriano, que todos sabemos como acabou.

Não quero dizer que o Corinthians teve os valores mais talentosos de um torneio em seu elenco. Pois não teve. Mas as anormalidades no pós dos 10 primeiros jogos foram contidas por uma perseverança de jogadores chave – como foram citados. Apesar de ter um conjunto regular, o Corinthians teve momentos finais baseados em jogadores. Mas nada que fosse fora do comum, pois não era.

O destaque do time, analisando friamente, não foi seu técnico, apesar de ter sido muito importante no time, de fato. A constância de Paulinho me convenceu para destacá-lo aqui, mesmo com alguns pontos negativos sobre o jogador. No jogo diante o Botafogo, por exemplo, o corintiano teve marcação pessoal de Renato, e pouco fez para mudar o panorama do jogo na ocasião. Para demonstrar o que acarretou ele não ter modificado seu posicionamento, basta afirmar que o time paulista perdeu por 2 a 0 em casa.

Num campeonato tão nivelado, muito pela qualidade técnica dos times mas também por uma opção tática comum destes – o 4-2-3-1 -, a individualidade ocorreu em certos momentos, como é normal ocorrer. Mas o mais fundamental é afirmar que o campeonato não teve o grande craque, ou a grande diferença em campo. O Corinthians foi campeão por sua perseverança em permanecer com sua formatação, mas não pelos seus valores. Nem um pouco. Tanto que deve-se afirmar que Neymar foi o grande do Brasileirão, e seu Santos ficou bem distante do título. Dedé está entre os top, mas não é o top. Fred foi preguiçoso em alguns momentos, apesar de ter desequilibrado contra o Figueira, por exemplo. E Ronaldinho não pôde manter seu nível como contra o Santos, no primeiro turno.

Não seja por isso, os corintianos venceram. Mas um grande destaque aqui ao vice Vasco. Tema de um próximo post para as lições do campeonato.

Por: Felipe Saturnino

05/12/2011

Lições de um campeonato – Parte 1

Da mesma forma com que Jonathan Wilson introduziu seu texto pós-mundial da África do Sul no ano passado, devo atestar que o Brasileirão foi o campeonato do 4-2-3-1 – de um ponto tático, claro. O esquema da moda simplesmente dominou os times daqui, constatando a dinâmica tão bem-sucedida nos tempos atuais do futebol.

Mas também deve-se falar que a sequência mais estonteante de um time no campeonato, e bem possivelmente a de um time em um campeonato em algum tempo de pontos corridos, ocorreu muito além do fato de o esquema estar sincronizado, mas sim ao fato de os jogadores estarem confortáveis com o estado parcial em que a equipe se encontrava. Falo do Corinthians – nas primeiras 10 rodadas fez 28 pontos. Depois, o pragmatismo se tornou um grande vilão – muito pelo esquema previsível. Mas isto é tema para outro post.

O campeonato atestou também, entre outras coisas, um uso razoável de disposição 4 e 4 – mais normalmente 4-3-1-2. Podemos falar que um legítimo 4-4-2 deve estar extinto, sabendo que o nosso campeão da Libertadores, o Santos, atuou o primeiro semestre quase que inteiramente em um 4-3-1-2. O São Paulo de Adilson também jogava assim. Depois, apenas para constatação, migrou para o 4-2-3-1. O uso do esquema foi mais explícito nos jogos diante o Cruzeiro e o Inter – o primeiro foi animado e o segundo foi de dormir.
Aliás, no jogo contra o Inter, a equipe hoje de Leão foi “espelhada” pela equipe colorada. Para evidenciar o tamanho pragmatismo de alguns jogos.

É verdade também que, de um ponto de exposição mais crítico e amplo, o equilíbrio existe por natureza em nosso campeonato. Não temos equipes extraordinárias que terão tanta facilidade para se desvencilharem nos blocos da frente – como Real e Barça fazem na Espanha -, mas se repararmos que times de pelotões da frente todos optaram por esquemas idênticos, no mínimo uma vez na competição, veremos certamente um outro “equilíbrio”, ou mais uma vez, o pragmatismo de que tanto falo. O problema do uso mais frequente dos mesmos esquemas, do mesmos alineamentos táticos.

É claro que também há as variações, as surpresas que sempre são bem-vindas. Um dos melhores times do segundo turno no Brasileirão foi o Figueirense, com direção do ex-lateral Jorginho. No entrave diante o Corinthians, a equipe apresentou transição para o 4-2-3-1, “imitando” o alvinegro. Contudo, o melhor futebol do returno jogava em um 4-3-1-2 tradicionalmente; tinha força no ataque, com Wellington Nem e Júlio César, contenção e reposição rápida no meio-campo central, e ainda articulação – todos atributos de jogadores como Ygor, Coutinho e Elias, normalmente. Os resultados dos catarinenses foram surpreendentes no torneio, em geral. E os números também: a equipe venceu acumulou 50% dos pontos jogados fora de casa – vencendo times como Corinthians, Botafogo, Palmeiras, Santos e Grêmio; dentro de seus domínios, o desempenho vai para 52%, e, apesar de parecerem números pouco espetaculares, para um time recém-promovido à série A, são incríveis, absolutamente incríveis. Checando de uma forma mais ampla, o Figueirense é apenas a terceira equipe do últimos quatro campeonatos que, recém-chegadas, alcançaram o pelotão dos 10 primeiros – as outras equipes foram o Coritiba em 2008 e o Corinthians em 2009. Porém, o time de Jorginho é o primeiro recém-chegado, de 2008 para cá, a ficar no grupo dos oito do torneio.

Times como o Figueirense e o Fluminense, notoriamente, atuaram em um 4-3-1-2 em parte da campanha – fato atribuído em maior escala aos catarinenses. Mas o Flu modificou o seu jeito de jogar, transitando para o 4-2-3-1 em algumas situações. Contra o próprio Figueirense, aliás, a equipe de Abel merecia uma análise mais específica, já que podemos ponderar o resultado de 4 a 0 dos visitantes – os tricolores – com o fato de os catarinenses terem tido mais a bola em sues pés e, também, por eles terem arriscado mais. Muito se resumiu pela atuação excepcional de Fred, e pelo trunfo do 4-2-3-1: o trabalho versátil dos meias na linha ofensiva.

Com isso, o pragmatismo pode ser esquecido, mas, a exemplo do que aconteceu com o Brasil no jogo contra a Costa Rica, em que os jogadores dessa linha ficaram praticamente imóveis por toda a partida, o grande momento de um time na competição ocorreu em 10 jogos, e no pós desse momento, se deu a crise que poderia ter tirado a equipe da briga. Por este fato, uma análise do momento específico do Corinthians no tempo falado exige um outro post – mostrando que a equipe também tinha uma linhagem ao 4-2-3-1, escolhido por Tite, e que fracassou no jogo diante o Tolima.

O possível legado do campeonato nacional - 4-2-3-1

Por: Felipe Saturnino

04/12/2011

Corinthians: o campeão pragmático com um time previsível em um campeonato imprevisível

O Corinthians foi campeão não só por ser ‘Timão’ – nunca é só por isso, acreditem. Foi campeão porque perseverou o torneio inteiro num sistema, manteve-o, e com convicção. Foi campeão por, além do mais, manter o seu técnico que é bom – acreditem nisso também.

A equipe é diferente daquela que falhou ao combater o Tolima na Libertadores, lá no início da temporada. Mas tem o mesmo sistema. O que mudou é que Tite não tem mais Ronaldo e RC, mas sem mais significativas mudanças. Com exceção feita a Alex, é claro. E Willian, também.

O que mudou foi que Tite foi mais convicto do que nunca. E seus jogadores também foram. Tivera a equipe, talvez, perdido o confronto diante o São Paulo há certo tempo atrás, e o gaúcho, também talvez, não permaneceria no lugar que hoje está. E Tite nem foi combatido por sacar o beque Chicão da equipe – o elenco foi com o técnico.

Após as 10 primeiras rodadas, a poção acabou. Foram 28 pontos, algo absurdo, muito absurdo. Um bom futebol. Um bom 4-2-3-1. Depois da derrota para o Cruzeiro, poucas atuações foram de se elogiar. Talvez aquele jogo contra o Vasco, e aquele outro contra o Atlético-GO. Mas no mais, nada demais. O que me parecia é que, com tamanha previsibilidade – com a terminação fazendo homenagem ao técnico da equipe – e tamanho pragmatismo, o time iria se modificar de alguma forma, fosse taticamente ou no comando. Mas não.

O campeão Corinthians manteve a linha dos meias ofensivos e, no entrave decisivo contra o arquirrival Palmeiras, Wallace era o homem do ponto-chave. Se ele combatesse Valdívia, o Corinthians não teria tamanhos problemas. Valdívia fez uma partida razoável, mas mais uma vez fez bobeira. Expulso.

E tudo se desenhou à maneira comum de um time previsível num campeonato inimaginável. Pela emoção, não pelo conteúdo técnico.

Em pensar que tudo isso ocorreu quando um Doutor e ídolo da equipe faleceu, no mesmo dia.

Tite - perseverou, num dia histórico dos corintianos, para o bem e para o mal

Por: Felipe Saturnino

04/12/2011

Para o penta

O Corinthians, hoje – já que estamos com pouco mais de meia hora no dia 4 de dezembro – é o favorito para conquistar o Brasileirão. Claramente.
Para os alvinegro, basta o empate contra o rival Palmeiras.

A equipe de Tite não terá Ralf e Émerson, ambos suspensos por motivos diferentes. Um por normalidade do futebol – os cartões – e o outro por um pisão no jogo diante o Avaí – a suspensão foi justa. Assim, a equipe terá um obstáculo a mais: achar um volante decente que dê conta de Valdívia no meio-campo central. Mesmo que o palmeirense não venha jogando bem – sua temporada foi horrorosa, com algumas exibições na seleção chilena. Tite, então, deve escalar Wallace. A opção pelo zagueiro torna o embate mais interessante, já que a equipe corintiana poderá se compactar mais no campo defensivo, sabendo que o jogador é um zagueiro. Porém, seu trabalho mais normal será o de cobrir o espaço de Ralf.

O embate também deixa clara a supremacia do 4-2-3-1, já que ambos jogarão no esquema. O Corinthians pode sofrer em dois pontos: com Luan pra cima de Alessandro e Valdívia pra cima de Wallace. Patrik sobre Fábio Santos é muito mais questão de contenção defensiva e cobertura do que uma tentativa de atacar os mandantes. Paulinho deve vir sobre Marcos Assunção, e Alex pode se aproveitar sobre Márcio Araújo ou outro volante qualquer. Aliás, o Corinthians vai depender de Alex. O meia terá que dar a dinâmica que Danilo não deu contra o Figueirense.

Tite pode iniciar o jogo, para confundir Felipão, com Danilo numa meia periférica, jogando aberto. Isto pode fazer com que a equipe tenha mais controle da bola, já que são jogadores articuladores, mesmo que tenham características distintas.

Mas, além de tudo, como foi dito, o Corinthians deverá se preocupar com a incidência de Valdívia sobre Wallace. O zagueiro não é tão ágil quanto Ralf em seus combates, por razões óbvias, e pode sofrer por isso. E se Luan levar a melhor sobre Alessandro…

Ainda assim, a vantagem é consideravelmente grande. O penta está perto. O que não quer dizer que esteja ganho. Tite sabe do que falo, e Wallace terá que ser consistente com o chileno palmeirense para que a profecia se concretize. Para o penta, Wallace é fundamental – acredite.

Wallace - prestes a fazer o jogo mais importante de sua carreira

Por: Felipe Saturnino

29/11/2011

Corinthians quase campeão; um brinde à Alex e seu dinamismo

Jogar no Orlando Scarpelli não era tarefa fácil de modo algum, ainda mais com um Figueirense fortalecido e que dependia de uma vitória para ir à Taça Libertadores. Os corintianos, entretanto, sabiam que necessitavam do mesmo resultado para continuarem o rumo natural ao título. E, mesmo sem um futebol convincente, em jogo que decide campeonato, vence-se ou ganha-se.

E a equipe do Parque São Jorge levou mais uma de vencida. Mais uma fora de casa. O jogo-chave – sabendo que um empate dá o pentacampeonato ao segundo mais querido do país – ganho.

Chamou minha atenção, porém, mais do que a simples vitória paralelamente ao resultado épico da vitória vascaína, o comportamento do Figueirense em campo. Nada revolucionário – claro que não -, mas mais uma tentativa para conter o Corinthians.

Jorginho havia dito que o alvinegro não seria campeão em SC, e modificou o Figueirense taticamente, passando a equipe do 4-3-1-2 para o 4-2-3-1. O ex-lateral armou o esquema da moda, puxando Wellington Nem à ponta esquerda para fazer frente ao lateral-esquerdo Fábio Santos – menos seguro no combate que Alessandro. No outro lado, Maicon era menos incisivo sobre Alessandro. Muito pelas características do jogador e, por, propositalmente, fortalecer o lado em que Paulinho, o volante corintiano, agia no campo. E também por conceder liberdade à Nem – constatando um equilíbrio tático nos flancos do campo. No meio-campo central, Ygor era o volante que batia de frente com Paulinho. Coutinho atuava junto de Danilo, o número 20 do Corinthians que nada fez no jogo. Nada mesmo. Não articulou, errou muito e estava preguiçoso. Algo que num time com um dado Alex, em dia razoavelmente bom, pode custar a vaga na equipe titular.

A estratégia de Jorginho era válida por neutralizar Paulinho com Ygor, barrar Émerson com Juninho e ter mais força na marcação com Maicon pelo mesmo lado. O motivo mor da equipe de Tite jogar mal, porém, foi a falta de um “ligador” em dia de “ligador”. Este era Danilo. E Alex entrou no segundo tempo; centralizou-se, empurrou Danilo para a esquerda e sacou Willian em um dia muito fraco. Mesmo assim, o mais sensato seria tirar o ex-são-paulino.

O que foi dito sobre o Figueira se parecia com o que Caio Júnior fez na ótima vitória do Botafogo sobre o Corinthians por 2 a 0 – manter um volante preso à Paulinho. Porém, a dinâmica que faltava no meio-campo apareceu, e as chances que o adversário teve não foram aproveitadas como naquela derrota. O lance de Alex no gol de Liédson mostra o que quero dizer.

Com a mudança, Tite praticamente ganhou o campeonato. Alex, mais atento ao jogo que Danilo, deu o passe qualificado que a equipe precisava. Nem precisou de Adriano nesta vez.

Muito deste jogo demonstrou a dificuldade de jogar no 4-2-3-1. Se barrado um certo ponto do esquema, as outras partes se tornam muito frágeis. Se não fosse a agilidade de Alex para se soltar mais em campo, talvez estivéssemos falando aqui do Vasco líder. Um brinde à Alex.

Alex e Liédson - dinamismo e decisão

Por: Felipe Saturnino

22/09/2011

No pragmatismo e na marcação, o 0x0 decepcionante

No Morumbi, nesta quarta-feira, esperávamos, todos, um bom jogo de futebol. Aquele clássico que fosse eletrizante, tanto um ótimo jogo técnico como um interessante duelo tático no xadrez.

O 4-2-3-1 do Corinthians no clássico: Willian recompondo, pela direita ou esquerda; Alex recuado para auxiliar a compactação; Émerson flutuante; na prática, um 4-4-2 com dois meias abertos

Não valeu por nada. O São Paulo no 4-4-2 com duas linhas de quatro não fez um bom jogo. O Corinthians, com Alex super recuado auxiliando na recomposição, foi de 4-2-3-1 que, alternadamente, permitia a um dos jogadores extremos – Willian e Émerson – a aproximação ao centroavante Liédson.

O São Paulo do 4-4-2 no clássico: Casemiro pela direita, Wellington e Paraíba centrais, com Cícero à esquerda; erro foi não forçar jogo em cima de Ralf, o que tornou o São Paulo pragmático nas suas investidas

Já havia sido dito que o Corinthians é um time previsível até um ponto. Num 4-2-3-1 versátil, a equipe “encaixou” a sequência avassaladora do início de campeonato – com 28 pontos em 30 disputados. O problema começou a surgir quando os desfalques se deram e, de uma forma, o rendimento de alguns jogadores não era o mesmo de antes. Depois da vitória sobre o então líder São Paulo, o Corinthians venceu mais alguns jogos. Diante o Inter, por exemplo. Mas a contundência dos jogos iniciais já tinha ido embora.

O Corinthians do sensacional início de campeonato: 4-2-3-1 prático que tem suporte de Paulinho pelo lado direito, com Jorge Henrique recompondo pela esquerda; ataque pela direita com a ótima fase de Willian, e Danilo fazendo a ligação; apoio de Fábio Santos pela esquerda

A equipe hoje de Adilson Batista, depois do massacre sofrido para o Corinthians na goleada do clássico, começou a achar um conjunto na vitória diante o Coritiba, no Couto Pereira. Venceu por 4 a 3 depois de marcar 4 gols e ter tempo suficiente para construir uma goleada histórica.

O São Paulo que começou a se desenhar nas mãos de Adilson: 4-3-1-2, com Rivaldo como vértice avançado, Paraíba e Wellington nos flancos do losango do meio-campo; Lucas e Dagoberto, afunilando e abrindo espaços na defesa adversária

Ontem, ambos os times pouco fizeram de relevante. O São Paulo conseguiu imprimir um ritmo forte nos primeiros momentos. Após recuperação de Juan – que ia ser incisivo e agressivo em cima de Alessandro – Dagoberto pegou a bola e arriscou, já dentro da área. Júlio César espalmou para lateral. Isso foi aos 5 da primeira etapa.

O jogo ficou pragmático demais. O Corinthians, agora já em um 4-4-2 que liberava Willian e jogava Émerson para o flanco direito, permaneceu improdutivo e muito respeitoso ao São Paulo. E para o time de Adilson faltou aceitar um risco maior. Faltou mexer com a cabeça do Corinthians – que vivia um dos piores momentos desde que Andrés Sanchez se tornou presidente.

Ainda assim, com as exigências do jogo, o São Paulo não conseguiu ser imprevisível. Com Cícero atuando à esquerda, na linha com Carlinhos e Wellington mais centralizados, e Casemiro aberto pela direita, o São Paulo não conseguiu atacar os volantes corintianos. Cícero se tornou bastante periférico para o jogo, e os avanços eram impedidos pelas recomposições de Willian e Émerson. Forçar o jogo com um vértice avançado seria recomendado – jogando Cícero para a meia central e tornando-o o marcável para Ralf, que cobria o lado de Fábio Santos, substituto de Castán no entrave.

Um outro motivo de decepção foi a atuação de Lucas – decorrente também por um pragmatismo do São Paulo. O camisa 7 da equipe do Morumbi jogou em cima de Paulo André – que fez partida muito segura ao lado de Wallace.

O Corinthians tinha Paulinho, como segundo volante, ocupando espaço para impedir os avanços de Carlinhos Paraíba. Alex voltava mais para recompor o jogo. Em alguns momentos, até mesmo Liédson ocupava espaço para marcar o volante Wellington, do São Paulo. Quebrar o primeiro passe da saída era fundamental.
E a equipe de Tite jogava pela bola. Que apareceu, aliás. Duas, mais exatamente. A primeira com Émerson, aparecendo na área e cabeceando para fora. A segunda se originou pela mudança de Piris por Rodrigo Caio, que perdeu a bola após um erro ridículo e deu a chance ao Corinthians, agora com Willian. O chute foi em um dos beques são-paulinos. Neste momento, o São Paulo tinha um meio-campo com Rodrigo Caio – primeiro volante -, Carlinhos Paraíba – à esquerda -, Casemiro – à direita – e Rivaldo, que substituiu Cícero. Wellington foi para a lateral-direita.

Em nenhum momento, porém, o São Paulo assumiu um maior risco. Em ao menos 80 minutos de jogo, o time atuou com a linha de quatro, sem modificação. O Corinthians, brigando por um empate que amenizaria o mau momento, saiu do Morumbi com o resultado que queria. O São Paulo arriscou pouco e pecou pelo que seu rival no momento não tinha enquanto atravessou um momento de derrota: imprevisibilidade.

Por: Felipe Saturnino