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14/12/2012

A confusão, o ídolo e o título

Tricolores, os paulistas, ansiavam pela volta da glória. Há mais de quatro anos, ela não regressava. A chance, que no ano poderia ter sido concretizada, ter se tornado realidade em três ocasiões – no Paulistão, na Copa do Brasil e no Brasileirão -, calhou de ter se efetivado numa última tentativa para um São Paulo faminto, dono de alguma garra, disposição e juventude, e com Ceni voltando à meta para celebrar mais um triunfo para o curriculum vitae já muito célebre, brilhante por suas fantásticas vitórias como arqueiro artilheiro, o maior de todos, há de se falar. A Copa Sulamericana apresentou-se como vencível, e vencida (aparentemente) foi.

O São Paulo merece o título pois, oras, ganhou a final. Sim, ganhou. Nem que tenha sido a metade da mesma, mas o fez com serenidade, não em plenitude, porque iniciou o jogo um pouco afoito; perdeu o medo com o gol de Lucas, que acelerava a partida com suas arrancadas ferozes, características de um “hambriento” meia que esperava por seu próprio tento, para tornar perfeita para si próprio a já incrível noite. Era, afinal, sua última como são-paulino. E tratou, depois do gol, de prosseguir com seu jogo tomado à minúcia, ao detalhe, pois estava mesmo com vontade de jogar, e jogar pra fazer história – que ainda lhe faltava propriamente, mas agora não mais; algum tempo, não muito, após o gol, o 7 das três cores do Cícero Pompeu serviu Osvaldo que, por mais que estivesse alguns milímetros impedido, nem que tenha sido por seu calcanhar, marcou e anotou o dois a zero. Mas o jogo era tenso.

O Tigre, pois, não era admiravelmente fabuloso; nem era, afinal, fabuloso. Não jogava bonito. Jogava forte, joga forte. Derrotou o Millonarios com gol de cabeça, em momentos finais do jogo. Os colombianos puderam empatar. Ontem, os argentinos partiram para um jogo muito forte, agressivo. De fato, o São Paulo deu bola. A tensão de final não atesta óbito, mas dá motivo pra pensar em agressão; e o jogo era tão nervoso por causa da natural pressão existente em ambos os lados, que foi lapidada pelos times que, no final, acabaram por trocar sopapos para a saída do primeiro tempo, o “entretiempo”, como diriam os albicelestes. Futebolisticamente, é deveras congruente com a verdade que o Tigre não seria capaz de vencer o São Paulo com um jogo solto, sem faltas, sem paradas; seria muito simples, posto a velocidade notável, e que vai fazer falta, de Lucas, mas também pelas ousadas investidas de Osvaldo, um ponta no 4-2-3-1 de Ney Franco que adquiriu confiança ao longo do ano, ganhou a posição e começou a partir pras bolas. No sweat, no glory. O Tigre, sem dúvida, como é de natureza, deveria empurrar o São Paulo à timidez. Limitá-lo a poucos lances livres, bloquear tantos espaços quanto pudessem, e também quando pudessem. Quando Lucas tinha a bola, no final das contas, quase nunca alguém conseguia pará-lo. Realmente, poucos podem fazê-lo.

Surgiu então a milonga. Depois, no final do caso, talvez não seja milonga, pois os argentinos falam em agressão por parte dos seguranças tricolores. Para o São Paulo, este seria o literal desastre. Por mais que os argentinos tenham brigado em campo – e como brigaram, a ponto de Lucas ter sangrado deliberadamente após ter tomado uma cotovelada -, esse não seria o caso. Se, no fim, tudo é uma ilusão, e não pode-se arcar com o inferno em que se meteram, os argentinos do Tigre, de Nestor Gorosito, não estão apoiados, pois não estão certos. A confusão poderia ter se generalizado, ou melhor, factualmente generalizou-se quando os times desceram para os vestiários, num túnel que une ambos vestiários de mandante e visitante.
A tensão a que me referi no parágrafo segundo, porém, se iniciou com o apedrejamento do ônibus dos jogadores do Tigre pela torcida do São Paulo – um absurdo, por mais que usual pelo continente. Algo que não poderia acontecer, pois sim, aí a segurança ameaça pela sua falta, pois ela não existiu no caso; a pilha continuou com o trato do aquecimento. O São Paulo não teria permitido, e o Tigre foi, por isso, impedido. Destratá-los para não ser feito o aquecimento em campo alegando que o gramado pode ser mais danificado, após um show de Madonna, bem, isso sim é curioso. Enfim, fato é que, pilhados por isso, e talvez sabendo que o São Paulo não disponibilizou o gramado para o aquecimento – pois os argentinos subiram a campo para ficarem aquecidos -, o Tigre conseguiu driblar a segurança, e se aqueceu.

No jogo, tudo poderia ter sido amenizado pelo juiz chileno, Enrique Osses, que talvez tenha sido muito, muito mão fina, suave para o tratamento que o jogo requisitava. Lucas, como já dito, levou uma bela cotovelada para seu álbum de deslealdade dos adversários. Lucas que, bem, é ídolo.

O título é do São Paulo. Bem, o vice da Conmebol voltou atrás e ainda não o deu por certo, mas seu merecimento pertence ao São Paulo. Jogou mais jogo, tem mais time, é mais leal. Mas a história da confusão, que se envolve e se confunde com a história do título, e ainda mais importante, com a história do ídolo jovem, Lucas, que obteve a honra sagrada concedida pelo ídolo mor da torcida, Rogério Ceni, requer investigação mais certeira. Apenas com testemunhos, pouco pode se avançar em esclarecimento. Um fato é que não há certeza no que se tem, e para um time, por mais que milongueiro e argentino, não volte a campo para continuar a pancadaria pra cima dos paulistas, bem, talvez tenha havido algo mais forte no intervalo. A questão que resta é a respeito de quem ter iniciado o confronto. E os seguranças tricolores, por mais que sejam “desarmados” – pelo que disse João Paulo de Jesus Lopes, de fato são -, hão de ser investigados, posto o que os argentinos afirmaram. A razão reside em algum lugar, imperceptível e ininterruptamente transitório, pelo que foi dito por ambas as partes, pois, como não poderia deixar de ser, não existe consenso.

De certidão, nada certo há. Apenas que Lucas é ídolo. Pois, bem verdade é, a Conmebol é tão inexata, errada e confusa que dá o troféu ao campeão num dia, e tem um de seus homens fortes dizendo que o torneio não acabou. Isso sim, afinal, é confusão.

Por: Felipe Saturnino