A equipe de Leão perseverou – não por inteiro no embate: o golpe de misericórdia competiu a Neymar, assim como os outros três tentos do visitante no Cícero Pompeu. Mais uma atuação ‘world class’ da figura mor do futebol nacional na contemporaneidade.
Interessantemente, o técnico do maior time das três cores de São Paulo pontuou Cícero na titularidade da única posição restante do meio-de-campo, e o preferiu a Fernandinho. A opção, como todas, apresentava um ponto e um contraponto, muito objetivos: com sua entrada, a equipe acumulava toque mais qualificado, e tocaria horizontalmente a bola – diferentemente de Fernandinho, que avançaria com sua velocidade pelo campo, distribuindo menos o jogo. O canhoto camisa 16 fazia do São Paulo a semelhança do Santos: dois 4-3-1-2s, ou até mesmo dois 4-2-3-1s tortos, falsos – atente para a ilustração.
Cícero foi importante para a dinâmica meio-campista do São Paulo apesar da derrota e fez do time um 4-3-1-2/4-2-3-1
E não, os motivos da derrota são-paulina foram os menos táticos possíveis. Foi, pois, o talento do garoto de seus 20 anos, número 11 dos praianos, que decretou a derrota.
Aliás, isto é uma meia verdade: Paulo Miranda auxiliou os visitantes na empreitada. E muito. Na primeira bola defensiva do jogo, um erro total e confusão trouxeram o primeiro golpe à cara do time são-paulino: penal que foi convertido com segurança por Neymar – e será que ele pensou em Lio e Cristiano ao bater este? O zagueiro, que já não é tão confiável quanto parece, contrastando com o bem mais qualificado e seguro Rodolpho, errou mais uma vez, no tento seguinte. Contudo, desta vez, Piris não concedeu a cobertura que tanto Neymar necessita para ser contido. O lateral paraguaio, que teve no jogo um inferno a ser resolvido – que não foi -, estava na outra ponta de jogo, lado esquerdo, e apenas olhou Ganso que deu um belo passe para Neymar marcar o seu. Não deu outra.
Por tudo, o São Paulo, de forma prática, começou o seu desafio de vencer o Santos pela primeira vez neste formato de Paulistão – já que fora eliminado nas duas edições anteriores pelos alvinegros praianos, e em 2009 sucumbiram ao Corithians – perdendo. O penal de Neymar foi muito, muito cedo. Um erro. Grave.
Mas Neymar também era fatal. Mais do que o usual.
Os tricolores permaneceram na pressão, perseveraram o possível, e ainda marcaram com Willian José na segunda etapa, possuindo tempo para uma reação – no mínimo uns 20 minutos para tal feito. Casemiro apareceu, o time tocou mais a bola, rodou mais o jogo. Lucas partiu para as bolas – como é do feitio. Neste ponto, Leão já havia modificado a estrutura tática: de 4-3-1-2 – ou um ‘fake’ 4-2-3-1 – para lídimo 4-2-3-1. Jadson não está confiante. Ainda não. A opção por Fernandinho foi aceitável, e aceita.
E Dênis aceitou Neymar.
Na bola traiçoeira, na mínima deixada de espaço, o santista percebeu e arrematou: Dênis falhou – frango na certa. Deleite dos santistas – não era para menos. Neymar conseguia um feito inédito: seu primeiro hat-trick na história de um clássico. E 102 gols com a camisa do Santos.
E Piris levantou Neymar.
Mas o lance foi ‘cômico’: Neymar provoca, faz o drible por fazê-lo, sem traçar objetividade, e Piris faz falta – porém, ainda toca na bola. Neymar foi rodado em campo. Mas decerto ficou satisfeito com mais uma atuação cheia de brilho.
Ao São Paulo, que tentara agredir o jogo inteiro a equipe santista, o baque foi forte. O time não conseguiu mais ter força ao ir avante. Talvez ainda não seja o momento deste novo tricolor figurar na galeria dos campeões nos anos 2010s. A pena para eles é que a culpa foi toda de Neymar. E sua dependência no Santos é evidente, ainda que não protagonize nenhum defeito ao ter isso.
Afinal, depender de craques é mais do que natural. Por mais que sejam prodígios, se sabem lidar com a responsabilidade, conseguem fazer mágica. Provavelmente, se não fosse por Neymar, o São Paulo teria vencido. A equipe agrediu em grandíssima parte do entrave. Mas azar dela que Neymar estava à beira de seu hat trick. O primeiro em jogos clássicos.
Neymar - a foto não é tão boa (particularmente), mas vale a dança pelo 102º
Por: Felipe Saturnino